O luar que nos fascina

Hoje, 20 de julho de 2009 faz 40 anos que o homem pousou na Lua. Na coluna abaixo falo um pouco sobre a influência da Lua sobre nós

Coluna Física sem mistério
Publicada no Ciência Hoje On-line

“Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão..."
(Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco)

A Lua brilhando no céu em uma noite limpa proporciona uma imagem que enche nossos olhos e desperta a imaginação. Infindáveis versos, poesias, músicas e declarações de amor já foram escritos inspirados no luar. Quando não temos a Lua no céu, as noites ficam mais escuras e as estrelas, mais visíveis. Mas, como propaga o verso citado acima, o luar é sempre a visão mais marcante no firmamento.

O fascínio pela Lua estimulou o imaginário popular a atribuir a ela influências mágicas. Todos já ouvimos falar que, quando há mudança nas fases da Lua, ocorre o nascimento de bebês. Cabelos cortados ou árvores podadas na Lua minguante, por exemplo, enfrentam dificuldade para crescerem novamente. Por outro lado, se o corte (ou poda) for feito na Lua cheia, o efeito é o contrário. Além disso, a Lua aparece com destaque nas previsões astrológicas. Quando a Lua passa em frente a uma determinada constelação, segundo a astrologia, pode indicar problemas (ou soluções) para as pessoas de um determinado signo.

Entretanto, todos esses mitos e crenças não têm qualquer fundamento científico. Sobre a validade da astrologia, esse tema já foi discutido anteriormente na coluna de junho de 2007. Atribuir à Lua qualquer efeito sobre os nascimentos dos bebês e os cortes de cabelos e árvores é algo que também não tem respaldo científico. Em ambos os casos, talvez o surgimento dessas falsas ideias esteja associado à principal e verdadeira influência da Lua sobre a Terra: a gravidade.

O efeito da gravidade
O conceito da gravidade foi proposto justamente para explicar o movimento da Lua ao redor da Terra. A gravidade é uma das forças fundamentais da natureza e está presente em todo o universo. É essa força que nos mantém presos ao solo, bem como a Lua em volta da Terra.

A descoberta da gravidade é atribuída a um evento – que pode nem ter acontecido de fato, mas se tornou lendário: a observação que o físico inglês Isaac Newton (1643-1727) fez da queda de uma maçã madura de um pomar em uma fazenda em Woolsthorpe, no interior da Inglaterra, no ano de 1666. Ele propôs que a mesma força que atrairia a maçã também atuaria sobre a Lua.

Mas esse satélite natural não cai sobre nós porque a aproximação ocorre simultaneamente ao seu movimento ao redor da Terra. À medida que a Lua “cai”, sua movimentação faz com que a superfície da Terra se afaste devido à curvatura do nosso planeta. A gravidade, nesse caso, é como um cordão prendendo uma pedra que gira rapidamente. Se cortarmos o cordão, a pedra escapa, da mesma forma que aconteceria com a Lua, caso a gravidade não atuasse sobre ela.

Outra questão muito importante explicada por Newton foi o princípio de ação e reação, segundo o qual qualquer força aplicada em um corpo sofre uma reação contrária de igual intensidade, mas de sentido oposto. Assim, a Terra atrai a Lua e a Lua também atrai a Terra, com a mesma intensidade.

Contudo, as dimensões da Terra e a distância média entre nosso planeta e a Lua não podem ser desprezadas ao se avaliar essa força. O diâmetro da Terra é de aproximadamente 13 mil quilômetros e a distância entre Terra e Lua é de cerca de 380 mil quilômetros. Dessa maneira, a ação da força gravitacional da Lua sobre o lado da Terra mais próximo a ela é maior que a força sobre o lado oposto. Esse efeito é conhecido como efeito de marés.

A maioria das pessoas já observou que o nível do mar sobe nas praias quando a Lua está no céu. Esse fato deve ter estimulado a crença de que os bebês no útero materno sofrem ação lunar e que os fluidos do corpo humano e das árvores também são atraídos pela Lua. Contudo, os efeitos de maré somente são relevantes para a Terra. Basta lembrar que não observamos a água subir em uma piscina quando a Lua está passando no céu.

O sonho da viagem à Lua
Atingir a Lua sempre foi um sonho humano antigo. No romance de Júlio Verne Da Terra à Lua (1865), os viajantes conseguem chegar à Lua usando um canhão gigante que atira um módulo. Mas esse meio não seria muito viável para executar essa viagem fora da ficção. Somente no dia 20 de julho de 1969, há 40 anos, o homem pousou na Lua pela primeira vez. Para o feito, foi usado o módulo Eagle (que significa águia, em inglês), acoplado à espaçonave Apollo 11.

Para realizar essa viagem, a tecnologia utilizada nos foguetes e nas espaçonaves é também baseada no princípio da ação e reação. Os motores dos foguetes usam oxigênio e hidrogênio líquidos como combustíveis. Quando os componentes do combustível reagem na câmara de combustão, o gás resultante é expelido para trás em alta pressão. De acordo com o princípio da ação e reação, o foguete é impelido para frente. À medida que se esgota o combustível, os módulos vazios são ejetados, o que ajuda na propulsão do foguete. O foguete Saturno V, usado para lançar a Apollo 11, tinha 110 metros de altura e pesava mais de 3 mil toneladas.

Após o pouso da Apollo 11 na Lua, apenas mais cinco missões a esse satélite natural foram realizadas com sucesso. A última visita foi feita em dezembro de 1972 pelos astronautas da Apollo 17.

A ida do homem à Lua foi um dos maiores feitos do século 20. A viagem realizada, se considerarmos as dimensões do Sistema Solar, foi apenas um pequeno passo. Em comparação com as dimensões terrestres, foi como atravessar apenas 12 metros do Canal da Mancha (braço de mar que separa a Grã-Bretanha do norte da França), que tem em sua parte mais larga 240 quilômetros.

Em termos de navegação espacial, apenas molhamos os pés no oceano cósmico. Contudo, existe a perspectiva de que uma nova viagem tripulada à Lua seja feita nos próximos 10 anos e, depois, uma tentativa de chegar até Marte ainda no século 21. Nos novos mundos que a humanidade ainda irá explorar, certamente existirão outros astros brilhando nos céus. Mas talvez não haja uma lua tão bonita quanto a que ilumina o nosso sertão.



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A coluna Física sem Mistério é publicada na terceira sexta-feira do mês pelo físico Adilson J. A. de Oliveira, professor da UFSCar


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